28.12.09

Metades

...
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.
...
(Metade - Osvaldo Montenegro)


Tudo depende de mim, das minhas escolhas, essa é uma das únicas certezas que tenho. Se algo não saiu conforme planejado, ainda me resta a possibilidade de escolher qual vai ser a minha atitude diante dos planos frustrados. Entender e colocar isso em prática é difícil e só se consegue com o amadurecimento. Crescer é preciso e, infelizmente, esse crescimento está atrelado às dificuldades já vividas.

É preciso entender que somos feitos de várias metades e que nada na vida nos é dado por inteiro pois, se assim fosse, certamente nem sempre se abririam novas possibilidades. Ser inteiro, completo, implicaria ser único e talvez imutável. Mas somos feitos de metades em busca de algo que nos faça sentir inteiros.

Somos metade paixão e metade desdém. A transitoriedade da vida está intimamente ligada à metade dominante no momento de fazer uma escolha.

Somos metade razão e metade sentimento. Somos seres humanos, incompletos, passíveis de erros e merecedores do perdão. Somos pequenas unidades de carbono com incalculável número de átomos em turbilhão.

Somos metade fantasia e metade realidade. Sonhamos com o passado, com o presente e com o futuro. Nos enganamos e enganamos os outros. Fazemos da vida pequenos lagos de flores. Tentamos mostrar aos outros nossa alegria e escondemos nossas mazelas.

Somos metade felicidade e metade sofrimento, não importa qual das duas metades se sobreponha em determinado momento, essas metades se alternam quando a gente menos espera.

Somos metade sensatez e metade loucura, metade liberdade e metade censura, nem água, nem vinho.

Somos a eterna disputa entre o bem e o mal.

26.12.09

Só por hoje.



Gosto de viver assim, feito um alcoolatra em tratamento, um dia de cada vez. Nada de viver cada dia como se fosse o último, nada de viver intensamente o que deve ser vivido com tranquilidade. Mas de uma coisa eu não abro mão: da verdade! Prefiro ser verdadeira à ser intensa...

E que o pensar me faça sentir, não o contrário...

Não porque é fim de ano, mas hoje foi dia de decisões. Decidi pensar menos e sentir mais. Decidi ouvir mais meus sentimentos e pensar menos em suas consequências. Hoje decidi que três grandes amores vão embora da minha vida, dois deles por decisão exclusivamente minha.

Decidi que não posso mais ser egoísta e que deixar a vida seguir seu curso nem sempre faz sentido, certas decisões precisam ser tomadas. Optei pela eutanásia de duas grandes amigas, minhas duas ratas, companheiras de todos os momentos vividos por mim nos últimos quatro anos. Optei por matar à mingua um sentimento, não sem antes expor o que eu sinto, esgotar as palavras sufocadas.

A força demonstrada por elas diante de um câncer físico talvez tenha sido maior que a minha diante do meu câncer emocional, mas como eu decidi remover o meu, decidi libertá-las dos delas também, nada mais justo, visto que elas são parte do mesmo tipo de sentimento: amor!

Por ser amor as duas decisões são igualmente difíceis de aceitar, mas foram tomadas no momento em que deixei o meu coração me guiar. Hoje, tenho certeza de que este é o melhor caminho.

E com o tempo as feridas vão fechar. O lugar da espaçosa gaiola vai ser lembrado com carinho, para sempre. O espaço do meu coração que era de outrem, vai ser só meu.



Eu nunca vou me esquecer de vocês!


Update: Foram levadas ao veterinário para a eutanásia mas, no fim, apenas uma se foi, a outra passa bem!

25.12.09

Resoluções para 2010!


Eu nunca fiz uma lista de resoluções para o ano novo, então, talvez esta seja a primeira resolução: fazer uma lista para me cobrar lembrar depois.

1. Estudar mais. Esta é uma promessa que eu faço todo início de ano desde que iniciei a minha vida escolar e nunca consegui cumprir, afinal, sempre acontecia alguma coisa mais importante para comprometer os meus estudos. Mas este ano tem monografia pra fazer e um exame da OAB pela frente, melhor eu cumprir a promessa!

2. Não me meter em roubadas sentimentais. Isso é difícil porque, nesse campo, a gente nunca sabe muito bem onde pisa e eu não sou adepta do "melhor nem tentar". Enfim, só espero um pouco mais de sorte da próxima vez.

3. Sair mais. Ainda que eu não goste muito, vou me esforçar, até porque, ficar enfiada dentro de casa nunca rendeu grandes diversões a ninguém.

4. Viajar mais. Adoro, mas poucas foram as oportunidades nos últimos anos. Que 2010 seja de viagens incríveis e inesquecíveis.

5. Passar mais tempo com as pessoas que eu amo. Isso inclui viagens para visitar amigos que moram longe e que a presença e amizade fazem milagres na minha vida.

6. Deixar o passado para trás. É óbvio que os problemas deste ano me acompanharão o ano que vem, não tenho a pretensão de que tudo seja realmente lindo e novo na mudança do calendário, mas no que depender de mim, o velho fica para trás e dá espaço para o novo entrar.

7. Fazer trabalho voluntário. Ainda não sei como nem onde, mas tenho certeza que a oportunidade vai aparecer.

Bom, a lista é essa, é curta (talvez haja alguns "updates" pelo caminho), mas se eu conseguir cumprir isso, 2010 valerá a pena...  

24.12.09

Ah, o Natal...


Depois de vários anos passando o natal na casa da família do ex-namorado, este ano eu tinha planejado um natal diferente. Planejei me vestir com um pijama muuuuito velho, daquele tipo que até freis franciscanos ficariam com dó e comentariam: "Filha, quando falamos em voto de pobreza, não é bem isso"... Enfim, no super-pijama eu iria para cama munida de pipoca, refrigerante e dvd´s e nem veria o Papai-Noel passar. O natal dos sonhos pra mim! Maaasss, como já era de se esperar, os meus planos foram por água abaixo quando descobri que teríamos convidados para a ceia em casa.

Cabe lembrar que a minha família nunca foi de fazer festas de natal, essa coisa de dar presente e esperar até meia-noite pra jantar nunca fez parte das nossas tradições familiares (aliás, acho que nem temos tradição nenhuma). Mas este ano nós temos convidados, hunf! Os convidados são ótimos, pessoas que eu realmente gosto, o que não gosto é de natal...

Minha amiga me chamou para almoçar com ela e, num primeiro momento, declinei. Mas depois pensei: se eu não vou ter o natal dos sonhos ela também não vai! Enfim, negociei o almoço em troca da ajuda dela na arte de pintar meu cabelo. Feito! (Quando eu digo "ajuda", na verdade quis dizer que ela ia pintar e eu ia ajudar ficando com a cabeça parada.)

Almoçamos e fomos para minha casa. A sugestão da minha cunhada foi colocar uma água oxigenada volume 30 no lugar da que vinha na caixinha da tintura, que é 20, apenas para "clarear um pouquinho" (porque eu queria passar de preto para castanho, mas nem milagre arranca tintura preta de um cabelo). Resultado: raiz quase loira e pontas, que não quiseram se meter na lambança, continuaram pretas. Ou seja, ficou horroroso. Corri na farmácia pra pegar um tonalizante escuro pra passar na raiz e só conseguia pensar: "Bia, como você é teimosa, depois de tantos anos e tantas besteiras feitas e você ainda cai nessa de pintar cabelo em casa??? Custava ter ido no Dani (o cabelereiro)???" Bom, passei a droga do tonalizante e tudo ficou bem... assim, mais ou menos... melhor do que estava, pelo menos!

O que me consola é que 2009 está acabando, falta só um tiquinho. E nesse "tiquinho" tem uma viagem para a praia no reveillon... Vai render!

E logo eu posto as minhas resoluções de ano-novo (e uma delas, com certeza, é procurar um profissional ao invés de querer mudar o visual em casa). Meu pai pretende fazer as resoluções de ano novo baseado no que ele NÃO vai fazer em 2010, acho que vou seguir a mesma linha.

20.12.09

Aquela noite dele...


Foi naquela noite fria de verão que a minha vida mudou, num lugar pouco comum para nós dois, numa condição pouco comum para qualquer um. Aqueles olhos perdidos encontraram os meus, perdidos, imersos em sonhos que ninguém nunca saberia, apenas ela.

A diferença entre nós dois tornou tudo mais fácil. Eu estava resistente, mas cheio de amor. Ela, feliz, sorria fingindo esconder os seus medos. Eu, meio de lado, deslocado, quase me escondia. Ela conversava com todos, dançava e ria. Ela tinha samba no pé, eu sempre fui rock n´roll. Eu segurava uma garrafa de água, sem gás e sem gelo. Ela bebia caipirinha, cerveja e tequila.

Fechei os olhos e pensei por um momento. Nada ao meu favor. Eu estava sozinho, ela, eu não sei, mas não parecia se importar. Conversava e envolvia o ambiente como se o mundo fosse dela, andava entre as pessoas como se todos fossem dela. E eu a olhava, imaginava, como se eu fosse dela.

E os olhos dela se cruzaram novamente com os meus (que já eram dela também), ela me sorriu e eu a chamei para dançar (bobagem, eu nem sei dançar). Ela aceitou, eu estremeci.

Alguns minutos daquela dança e eu percebi: aquele sorriso não era meu, nem era dela. Ela não era dona de si mesma, seu coração estava em outro lugar... Talvez perdido por alguém que não a conhecia, não como eu, sangrando por alguém que não era seu.

E como eu me acostumei a não lutar, nem o nome dela eu perguntei...

11.12.09

Dr. Fernandinho Beira-Mar? Será?

Olha só que lindo! Fernandinho Beira-Mar vai prestar o ENEM em 2010.

Depois de receber a notícia e achar que era uma pegadinha, confirmei na internet e fiquei pensando se depois ele pretende prestar vestibular. Fiquei pensando também na carreia pretendida pelo "artista", já que ainda não temos curso superior para traficante.

Administração seria chover no molhado, já que ele é um administrador nato, como comprova sua história, visto que o sistema de narcotráfico montado por ele já é até objeto de estudo acadêmico.

Aaahhh! Mas ele pode prestar vestibular para Direito. Advogado já não tem credibilidade nenhuma mesmo... Se bem que, se tratando de Brasil, não vou ficar espantada se, daqui alguns anos, ele se tornar um delegado da polícia federal, promotor, juiz ou (por que não?) ministro do STF.

Nada mais me surpreende!

6.12.09

Sem título para o momento.

"Agora preciso de tua mão,
não para que eu não tenha medo,
mas para que tu não tenhas medo.
Sei que acreditar em tudo isso será,
no começo, a tua grande solidão.
Mas chegará o instante em que me darás a mão,
não mais por solidão, mas como eu agora:
Por amor."
(Clarice Lispector)
 
   
Eu queria ter vivido tudo aquilo de forma mais intensa, mas o medo de um passado que não existia mais me aprisionou. Hoje tenho a sensação de que tudo aconteceu pela metade, eu fui metade, não me dei chance de ser inteira. Você, eu não sei...

Pensei conhecer um pouco de mim, um pouco de você. Te contei a minha história. Exagerei. Era uma espécie de prova, sua chance de fugir... Mas você não fugiu, não naquele momento. Apostou. Eu dobrei a aposta. Você, eu não sei...

No momento errado tudo mudou e eu me senti completa. Me despi de meus medos e inseguranças, ainda que alguma coisa dentro de mim pedisse para eu ter cuidado. Não ouvi. Queria ser inteira, arriscar, fazer valer a pena. Você, eu não sei...

Te contei meus medos mais bobos, da boca de lobo, do lago, da ponte próxima ao barco. Te contei meus medos da vida, do futuro (,) da gente. Te contei quase tudo que podia. Você, eu não sei...

Mas os medos precisam ser superados. Não tenho mais medo do lago, nem da ponte próxima ao barco (das bocas de lobo, talvez!). Não tenho mais medo da vida, do futuro (da gente, sim!). Não tenho mais medo de ser inteira ou ser metade de uma outra metade. Você, eu não sei...

E um dia, perto do lago, na ponte, aquela próxima ao barco, eu estarei. Você, eu não sei...

Eu sabia!

Eu sabia que o fato de ter traído a Saraiva ia me dar problemas. Sabia que ia sofrer retaliação por parte da livraria. Ela é adepta do ditado "a vingança é um prato que se come frio".

Uma amiga minha ficou sabendo que fui na Saraiva na semana passada e brigou comigo por não tê-la convidado porque, segundo ela, eu tinha obrigação de saber que ela queria ir. Segundo ela, ainda, em algum momento, dentre as milhares de coisas que ela me fala todos os dias, tinha expressado o interesse de ir procurar o presente de amigo-secreto lá.

Que fique claro duas coisas: 1) eu não tenho bola de cristal; 2) ela realmente anda com um problema de achar que falou algo que não falou.

Mas eu resolvi voltar na Saraiva esse fim de semana, apenas para levá-la comprar o presente. Na verdade, queria também sondar como andava o humor da livraria comigo. Se eu chegasse e eles fechassem as portas, seria hora de desencanar e partir pra outra.

Um pouco abalada com uma notícia que minha amiga tinha me dado ao longo do caminho (e ela não tem noção que uma pessoa dirigindo em alta velocidade não pode ser surpreendida com uma notícia a queima roupa!), chegamos em Campinas.

Shopping lotado, mesmo público burguês de sempre, nos dirigimos à Saraiva.




Em menos de 5 minutos lá dentro eu vejo uma prateleira com pelo menos QUATRO obras do GABRIEL GARCIA MARQUEZ. Eu tenho certeza que, ao me ver entrando no Shopping alguém foi lá e montou a prateleira, só pra me sacanear. Fiquei p... da vida, mas resolvi não dar atenção.

Achar um atendente desocupado lá dentro é uma loteria, mas depois de alguns minutos conseguimos um que não nos ajudou em nada. Ótimo!

Procurei um livro que meu pai tinha me pedido e não tinha. Eu ainda acho que tinha e alguém escondeu e alterou o sistema de busca fazendo constar: "Disponível somente para encomenda".

Minha amiga finalmente decidiu o que o amigo-secreto dela vai ganhar e fomos para o caixa. Qual não foi a minha surpresa ao dar de cara com uma pirâmide construída com centenas de exemplares do livro "O amor em tempos de cólera", justamente o que eu comprei a semana passada na Livraria Cultura. Mas não para por aí, o livro estava, simplesmente, pela METADE do preço que eu paguei. Tive vontade de derrubar a pirâmide mas me contive, não iria demonstrar meu abalo, jamais!

Já no caixa, emprestei meu cartão fidelidade para minha amiga obter o desconto na compra dela e descubro que tenho um bônus/desconto de 15 reais. Sendo assim, "O amor em tempos de cólera" sairia pouco mais de 10 reais pra mim... Mas eu não iria aproveitar a pechincha, afinal, já tenho o livro, que me custou 52 reais na Cultura.

E a Saraiva está rindo até agora.

5.12.09

Inferno astral?

O blog anda com um certo delay, mas é culpa da semana agitada, não minha. Tecnicamente hoje é dia 05, mas o blog ainda está no dia 02. Enfim...

É mentira que eu me irrito fácil. Ocorre que, se eu não estiver irritada, o destino persiste!

Vamos aos fatos:

Quarta-feira, 02 de dezembro: acordei até animada pois, teoricamente, o meu inferno astral tinha acabado no dia anterior. Para minha surpresa, assim como o blog, meu ciclo solar também parece estar com delay.

Em tempo, as "quartas-feiras" sempre foram tensas pra mim. Eu não sei porque mas é o dia da semana em que saio de casa com uma nuvenzinha em cima de mim. Ainda que o dia esteja lindo, pra mim ele está nublado.

Chego no escritório no horário de sempre e me arrasto até a cozinha rezando para uma boa alma já ter feito o café. Nada. Resolvo fazê-lo eu mesma. Nada de pó de café. Cogito a possibilidade de ir até o mercado, mas seria pedir demais... Melhor me concentrar em outra coisa enquanto o pó de café não chega por livre e espontânea vontade.

Computador com problemas pra ligar, promessa para Nossa Senhora dos Computadores que Não Ligam e ele liga! Abro o Diário Oficial e dou de cara com um número assustador de publicações. Prazos e mais prazos a cumprir. Enfim, é a minha penitência por um dia ter desejado o curso de Direito. Mas são 8:20 e o dia está só começando, ainda dá tempo de melhorar (ou piorar).

Logo mais o café chega pelas mãos de uma colaboradora e me faz sentir melhor. Sempre ouvi dizer que amigos são anjos... Acredito! Ainda mais quando esses anjos trazem café.

Começo a me preparar para o dia e a mesa vai novamente retornando à sua aparência habitual, estilo "pós furacão Katrina". No ponto alto da desorganização eu me lembro que preciso "dar um pulo" na prefeitura e retirar uma certidão XYZ. O "dar um pulo" tem que estar entre aspas mesmo porque qualquer ser humano normal sabe que, se depender da eficiência de um órgão público, é impossível dar um pulo, no máximo, brincar de estátua ou morto-vivo. Fui.

Pensando que nada poderia dar errado, já que eu SEMPRE faço a MESMA solicitação, no MESMO lugar, pagando as MESMAS taxas, para o MESMO cliente, referente ao MESMO processo, entrei na Prefeitura Municipal (que é um pleonasmo) tentando não demonstrar insegurança. (Se quiser sobreviver, NUNCA demonstre insegurança a um funcionário público).

Chego no balcão e entrego o protocolo de retirada. Foi nessa hora que a nuvem de quarta-feira começou a dar o ar da graça só pra me mostrar que o inferno astral não tinha acabado. Com aquela entonação de "Rá! Vou te dar canseira!" o funcionário me pergunta:

- Você trouxe o contrato social da empresa? 
- hã?
- O con-tra-to so-ci-al...
- Pra que você quer o con-tra-to so-ci-al??
- Para confirmação de CNPJ e razão social.
- Como assim? A certidão não foi emitida ainda?
- Foi, está aqui, mas eu preciso confirmar.
- Mas está na própria certidão!
- É só pra confirmar.
- Eu entendi mas, se a certidão foi emitida, isso quer dizer que o CNPJ e razão social estão corretos ou a prefeitura emite certidões com informações incorretas?
- Não é isso, é que... blá blá blá blá blá (infinito).

Bom, eu tive que ir ao departamento de dívida ativa, ao jurídico, voltar ao protocolo, começar mais uma discussão, etc... Mas saí vitoriosa, com a certidão nas mãos. O dia estava difícil, mas não impossível.

O calor dentro do carro fazia eu me sentir um peru em véspera de natal, mas tudo bem, eu tinha acabado de ganhar uma guerra e o meu troféu era uma droga de certidão.

Segundo Round, Forum. Logo ao entrar eu vejo no balcão do cartório da segunda vara cível uma cliente do escritório (chaaaata) e me lembro que o processo dela está na PRIMEIRA vara cível. O que ela faz na segunda? Lembrei! Ela está fuçando um outro processo da pessoa que moveu ação contra ela. Fuçando é a palavra certa e fuçar é muito feio. Já acho feio se você é um pobre advogado buscando informações, se você é parte, pior ainda (um dia escrevo um merecido post sobre "as partes" do processo).

Usei o velho truque do celular (aquele que você finge falar com alguém para que o chato que você já avistou não te interrompa) e passei rápido. Subi as escadas bem em frente ao balcão onde a chata estava e pude vê-la perguntando um monte de coisas para a funcinária do cartório, que aqui receberá o nome de Cabeluda.

A Cabeluda é uma das senhoras mais chatas e arrogantes de todas as varas cíveis. Me deu vontade de parar no meio da escada, dançar a macarena pra ela e gritar: "Bem feito! Eu disse que um dia você ia se f...". Mas achei melhor não chamar a atenção para mim, de forma que eu só olhei e dei um sorrisinho sarcástico.

Pronto, a nuvem que estava dando trégua resolveu voltar com força total. Praga da Cabeluda, tenho certeza.

Lá em cima, fila no balcão do protocolo, sistema fora do ar, fila enorme no banco, saguão lotado de gente aguardando audiências, uma mulher chorando e brigando com o (penso eu!) ex-marido, aquele clima amistoso de pré-audiência de vara de família, uma delícia! O jeito é voltar mais tarde.



Passei pela Cabeluda e a chata de novo e saí sem ser notada. Qual não foi a minha surpresa ao perceber que um engraçadinho havia colado na traseira do meu carro, dificultando um pouco a minha fuga.

Volto ao escritório, chateações normais, meto o joelho numa gaveta e quase choro de dor, calor insuportável, advogado da sala ao lado em reunião de alto nível de decibéis... Tudo normal.

Faço uma horinha e resolvo que é hora de voltar ao Forum. Entro no carro e percebo que alguém deixou um panfleto no pará-brisa, mas decidi que não era o momento de sair do carro e tirá-lo, faria isso a hora que chegasse ao Forum ou quando chegasse em casa ou não faria, esperaria ele sair sozinho e, gentilmente, dirigir-se a uma lixeira por conta própria.

Mas, como já era de se esperar, no meio do caminho começou a chover, na verdade, mandaram água de balde, molhando o papel em apenas alguns segundos. Por mais que eu não quisesse aceitar a idéia, tinha que ligar o limpador de para-brisa. Aquela massa de papel molhado se espalhou por todo o vidro. Lindo!

Não tinha uma m... de uma vaga próxima ao Forum, tomei chuva, molhei a petição que ia protocolizar, quase caí atravessando a rua de paralelepípedo. O fim de tarde estava realmente maravilhoso.

Chego em casa, p da vida (bobagem!) e vou tomar banho. Só quando estou inteira molhada é que eu percebo que acabou o shampoo... E ainda eram seis horas da tarde...


Errata: no post anterior, sobre o Dr. Psiquê, onde escrevi "1/3 de idade" leia-se "2/3 de idade". É que meu pai, que acabou de ler o post, me avisou que 1/3 é menos que 1/2 e a minha intenção era justamente o contrário. Nunca entendi direito as frações, a parte do meu cérebro responsável pela matemática foi desativada logo que eu nasci.

3.12.09

Dr. Psiquê

Dia 23 de novembro eu decidi que era hora de consultar um psiquiatra. Os motivos não importam. Peguei o "catálogo" de médicos que atendem ao meu plano de saúde, descartei os que eu já conhecia e não gostei e sobraram quatro de uma lista considerável.

Nos três primeiros que liguei só havia consulta para depois do dia 20 de dezembro. Na minha humilde opinião, psiquiatra deveria atender pronto-socorro porque, dependendo do seu estado, não dá pra esperar um mês... Bom, mas na última tentativa (surpresa!) tinha horário para o dia 01/12, meu aniversário. Não é coincidência, é azar mesmo. Enfim, como eu não estava em condições de recusar a oferta, aceitei.

E no dia 01/12, no horário marcado, eu estava lá.

Enquanto preenchia minha ficha, um homem, pouco mais velho que eu, perambulava pela recepção. Ouvi a recepcionista chamá-lo de Doutor (?). Ele procurava por algo que parecia não estar ali (será que ele é o médico?) e parecia um pouco perdido, transtornado (só pode ser ele, todo psiquiatra é louco!). E era.

Eu não tenho nehum preconceito com médicos jovens mas, para meu psiquiatra eu esperava um senhor de 1/3 de idade, barba e um "ar" de Freud. Tá, ele é psiquiatra e não psicanalista... mas vocês entenderam onde eu quero chegar. Se não entenderam eu explico: o Dr. Psiquê tem idade pra ser meu amigo de bar, uma dessas pessoas que eu poderia encontrar numa balada (se eu as frequentasse) e o "ar" estava mais para Hannibal Lecter.


Conte-me tudo!

Entrei, sentei e tive que expor o motivo pelo qual eu estava ali. Confesso que fiquei desconfortável, primeiro porque meus amigos sabem que eu não sou normal, mas eles descobriram isso sozinhos, eu não contei. Segundo porque eu jamais tomaria um remédio indicado por um amigo de bar, não um remédio de uso controlado pelo menos, no máximo, um dorflex. Terceiro porque ele tinha um olhar "vidrado" e ao mesmo tempo perdido (medo!).

Claro que ele deve ter percebido que eu estava desconfortável mas, ao invés de me oferecer uma cerveja pra relaxar, ele me bombardeou de perguntas. A entonação da voz dele era quase de um serial killer, psicopata, prestes a devorar a vítima que, no caso, era eu.

E eu tinha vontade de dizer: "Olha, eu sei qual é o remédio, eu só preciso da receita, vamos pular essa parte em que você quer saber de tudo (ou me mata!)... Eu saio feliz (e ilesa) e poupamos seu tempo (e minha vida)". 

No fim ele constatou o que eu já sabia (ufa! ele não quis "inovar") e me receitou o remédio que eu já conhecia (ufa! ele não quis "inovar" [2]).

Fui embora, com duas caixas do remédio que ele me deu, esperançosa e sem nenhum arranhão.

O retorno ficou para 05/01 mas, como é de praxe, não sei se vou. Eu nunca faço o "retorno" dos médicos e neste, particularmente, fico com medo de entrar no consultório e surpreendê-lo com a boca suja com sangue do paciente anterior...